Samurai X (Rurouni Kenshin) e os dilemas de separar obra do autor


Talvez o ano de 2023 veio forte para dar um bom ritmo de tretas para o pessoal na web. Desde de coisas mais bestas como essa aqui e, especialmente, discussões que valem a atenção e a reflexão para cada um ter sua decisão, como a treta que a JK Rowling jogando no lixo sua carreira. Agora, com a chegada do remake de Rurouni Kenshin, Samurai X no Brasil, temos mais uma etapa sobre separar a obra do autor, ou não, e a hipocrisia da moralidade do consumo responsável.


O que é Samurai X?


Samurai X
 ou Rurouni Kenshin -Meiji Kenkaku Romantan- é uma série de mangá criada pelo artista Nobuhiro Watsuki e posteriormente adaptada em anime. A série, ambientada nos primeiros anos da Era Meiji no Japão, conta a história de Kenshin Himura um pacífico espadachim que prometeu nunca mais matar.

Samurai X fez muito sucesso aqui no Brasil, mesmo sendo mais retalhado pela Rede Globo do que os inimigos do Battousai no seu auge e, mesmo assim, conseguiu se destacar e ir mais além, como nos trazer o lançamento do mangá em nossas terras.

Por muitos anos não havia problemas com a obra, quer dizer, ainda não tem. Mas com Nobuhiro Watsuki... Deu merda e da grande, tá?


Nobuhiro Watsuki o autor de Samurai X (Rurouni Kenshin)


Nascido no dia 26 de maio de 1970 Nobuhiro Watsuki é um mangaká japonês que tem como sua obra mais famosa a história de Kenshin Himura em Rurouni Kenshin. Ele também chegou a orientar alguns outros artistas famosos, como por exemplo Eiichiro Oda de One Piece.

Mas qual o problema com o autor de Samurai X? Bem, se você nunca soube do ocorrido, esteja preparado. Em 2017 Watsuki foi preso pela posse surreal, ao ponto de ser considerado até um número de estoque como revendedor, tendo em seu apartamento em torno de 100 DVDs de pornografia infantil.

Sim, Watsuki é um belo de um filho de puta e o Japão é um país muito esquisito para lidar com esse crime. Legalmente, com os meios que as leis de lá permitem e, com a singela bagatela de 200 mil ienes que, na época, era o equivalente a R$ 6000, ele pagou pelo crime (literalmente).

Ou seja, perante a lei, Watsuki foi preso e, como pagou sua fiança, cumpriu o que era esperado. Convenhamos que moralmente, ele pagou um valor altamente risível para cumprir sua pena de algo terrível e fica o sentimento de que ele nem chegou a ser preso.

Por esse motivo muitos pensam em não assistir ao remake e tá tudo bem. Se você for assistir, tá tudo bem também...


Separar a obra do autor e o falso moralismo do consumo responsável


Uma das maiores discussões que sempre retornam e não chega a lugar nenhum é sobre a questão de separar a obra do autor. É possível? Sim. É fácil? Depende. A resposta típica de professores e filósofos não ajuda em nada, então, vamos a alguns exemplos de como lidar com isso.

Dependendo do que o autor fez é muito provável que muitas pessoas fiquem em um estado de repulsa, nojo e afins que é totalmente compreensível e não consegue mais encarar as obras. Isso é algo mais pesado no emocional quando há um grande carinho pela obra, vide a treta dos fãs de Harry Potter tentando cancelar e boicotar a JK Rowling.

Essa treta escancara a hipocrisia do moralismo que muitos pregam, aliás, é extremamente seletiva essa preocupação que muitos dizem ter. Após todos os atos asquerosos e nojentos de transfobia da JK Rowling, muitos começaram a dizer em consumir obras que não tenham, em bom português, alguma merda relacionada aos envolvidos.

Note a busca para saber se "desligaram" o autor de algo novo relacionado a sua obra como, no exemplo dela, no game ou nos filmes recentes de Animais Fantásticos...

Se você, de fato, for fazer e não consumir entretenimento e coisas produzidas que carreguem com si um lado obscuro e criminoso para existir, bem... Tá preparado para viver de modo similar aos tempos das cavernas? Você não deixa de comprar seu celular, roupa, tênis e outras coisas criados com trabalhos análogos à escravidão de crianças ou os filmes de Hollywood com diversos produtores, diretores e até atores, com algum podre no currículo...


Não quero dar dinheiro para o criador


É legítima a preocupação de não querer financiar gente filha da puta, entretanto, eu tenho que te dar uma notícia que muitos não sabem, não observam ou fecham os olhos para não ver: a partir do momento que algum produto de alguma marca de um autor é licenciado, ele ou ela, já garantiu dinheiro no bolso. Pode ganhar mais? Sim, mas ai depende do contrato e eu não vou fingir que eu tenho acesso aos dados e inventar falácias e hipérboles como diversos locais irresponsáveis.

Quando Hogwarts Legacy foi anunciado e até o dia do seu lançamento, essa discussão sobre o game ficou viva, talvez esteja ainda. Mesmo que você opte por boicotar o game não comprando, ou pirateando, a criatura já ganhou dinheiro ao vender os direitos para a criação do game.


Voltando ao caso de Samurai X e Watsuki. O anime já está entre nós e, já se tocou né? Watsuki já lucrou com esse novo licenciamento para o remake do anime. Ele (literalmente) pagou pelo crime e isso facilita até para a Shueisha continuar a explorar a obra.

Se eu, você, nossos amigos e seja lá quem for, resolver não assistir, não mudará em nada a situação do bolso do dele. Se esse licenciamento tiver alguma clausula que lhe renda mais dinheiro, inevitavelmente algum valor chegará nele. Então assistir por meios legais pode sim render algum troco extra para ele, assistir pirata também ajuda na popularidade, não assistir não mudará nada e nem o impedirá de ter eventuais lucros extras.

Mesmo depois de mortos, vão continuar lucrando, afinal, seus herdeiros se tornam donos das obras e farão dinheiro com aquilo que foi criado por essas pessoas asquerosas.


No fim do dia...


Depois que o produto já foi para fabricação e ganhou vida, nada mais poderá ser feito para evitar do autor lucrar com sua criação. Se você consegue assistir a obra, assista e continue xingando o autor se você tem o costume, ao separá-los. Mas, se você não consegue e não quer consumir, tá tudo bem.

Ao fim do dia que vai prevalecer é como você se sente consigo mesmo e consumir ou não as novidades que a obra pode vir a ter, ou revisitá-la. O autor sempre terá seu ganho, mesmo boicotado. Siga sua consciência e escolha aquilo que lhe entretém para curtir.

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